O homem precisa situar-se no tempo e no espaço como maneira de identificar a si e o meio social no qual está inserido.

Uma dessas maneiras é a arte de colecionar. Existem as mais variadas formas de se entender o mundo e o paulatino desenvolvimento da sociedade através dos anos por meio de uma coleção.

A história da sociedade e seu desenvolvimento pode ser entendido de muitas Formas. Uns apenas estudam, outros estudam e vivenciam a experiência do estudo por meio de faculdades empíricas, como, por exemplo, um paleontólogo. Outras pessoas procuram entender a história através da fala, folclore e causos, motivo pelo qual as histórias verídicas ou não existem sobre fatos ocorridos a milhares de anos sem por isso perder-se. Outras pessoas colecionam. O colecionismo, portanto, não deve ser considerado apenas uma atividade de entretenimento ou simples ” hobby “.

A atividade do colecionador, antes mesmo de ser considerado simples entretenimento, revela-se como atividade de estudo e transmissão de dados e fatos.

Segundo Geraldo de Andrade Ribeiro Junior o colecionamento:

“…é uma atividade salutar e recomendada, bem como pode ser praticada por qualquer idade, não sendo uma mera atividade recreativa infantil ou um passatempo a mais para a terceira idade. A grande maioria dos colecionadores, segundo os cadastros apontam, está exatamente entre estas faixas etárias. Todas as pessoas colecionam algo, mesmo que não percebam. Podem ser caixas de fósforo, chaveiros, sapatos, etc. Inadvertidamente ou não, sempre guardam objetos. Segundo psiquiatras, colecionar é uma atividade absolutamente normal e proporciona uma higiene mental. Felizmente, é algo absolutamente normal. Podem ficar tranquilos, pois anormais são aqueles que não se interessam por nenhuma outra atividade, além de sua atividade cotidiana, às vezes nem mesmo por ela…” (fone: http://www.abrafite.com.br/artigo14.htm  Artigos Publicados. 2003. Associação Brasileira de Filatelia Temática).

Ao destacar a importância de se colecionar Geraldo de Andrade Ribeiro Junior ressalta o caráter pedagógico da atividade, citando em particular a “…História, a Geografia e as Artes, nas quais se sobressai imediatamente a correlação…”. Assevera que no tocante à filatelia “Ao manipular os selos, ao fixá-lo no álbum, verificá-lo no catálogo, etc., a criança vê e revê, diversas vezes, a mesma imagem. Com isto, além da memorização da imagem representada, tem a sua atenção despertada para a importância do fato que veio a merecer a emissão de um selo e, imediatamente, se bem orientada, pode fazer a sua correlação com os fatos ligados ao tema que está ilustrando.”

Merece destaque as palavras do Filatelista:

“O desenvolvimento de uma coleção, tornando-a dinâmica, moderna, maleável, cada vez mais completa, induz, sempre a uma necessidade de um melhor trabalho, de mais pesquisas e por isto mesmo motiva cada vez mais o trabalho a ser desenvolvido. O ato de colecionar desenvolve a metodologia, o senso de observação, a atenção e por fim a paciência, tão necessárias para um estudo em profundidade de qualquer assunto. A pesquisa, item este tão importante e nem sempre prestigiado pelos educadores é um elemento obrigatório para qualquer forma de colecionismo, pois vai despertar o instinto de curiosidade, fundamental para o prosseguimento de seus estudos. Paralelamente, a limpeza, o rigor, a correção, elementos básicos da coleção serão elementos que lhe servirão ao longo da vida escolar, em qualquer grau e até mesmo profissionalmente, por toda a vida.”

Não exagera em nada o eminente filatelista presidente da ABRAFITE (Associação Brasileira de Filatelia Temática) ao ressaltar com tamanha propriedade a arte de colecionar, capaz de reforçar os estudos e as pesquisas. Nesse desideratum os selos em nada diferem das armas que representam certas particularidades culturais capazes de retratar o status e o modus vivendi da época, o governo, a história, e a conjuntura socioeconômica de um povo.

No início da coleção, todo colecionador é um pouco amontoador. Preocupa-se, às vezes, mais na quantidade do que na qualidade propriamente dita. Somente com o passar dos anos, com o estudo e a pesquisa, paciência, e a elaboração de um plano de colecionamento a coleção toma forma e relevância. Assim, procurarei diferenciar as armas com enredo histórico, as armas de defesa pessoal e aquelas com características históricas, trazendo de maneira salutar uma contribuição para a classe dos CAC (colecionadores, atiradores e caçadores), e, claro, para os amantes do tema e demais estudiosos.

Dependendo, portanto, dos objetos que se coleciona, a atividade do colecionador deve ser considerada como uma arte e uma ciência que permite o aperfeiçoamento do aprendizado, valorizando a cultura.

A arte de colecionar armas de fogo e artefatos militares assim deve ser considerado. Um país que não permite a coleção de armas de fogo por parte de seus cidadãos não valoriza sua própria identidade e a ele não lhe espera futuro grandioso.

Há quem diga o contrário. Pessoas favoráveis ao desarmamento interpelam a sociedade lançando falsas premissas ao dizer que as armas de fogo de cunho histórico deveriam ficar exclusivamente a cargo dos museus.

Quem coleciona armas de fogo de caráter histórico sente-se chocado com essa ideia. Primeiro porque a experiência tem demonstrado que os colecionadores particulares se empenham mais na manutenção de suas peças de coleção do que os museus.

 É simples de se entender. Uma arma rara exposta em um museu tem maiores chances de se deteriorar do que na mão do colecionador particular. Basta iniciar uma pequena ferrugem para apagar marcas importantes de uma arma.

Quem é colecionador sabe bem do assunto. Muitas armas de fogo guardam pequenos e importantes sinais, marcas de prova, datas, nome de fabricantes, números de série gravados em suas partes que merecem cuidados especiais e óleos especiais para sua conservação.

Já os museus não se preocupam com esse fato. De quando em quando limpam as peças. Muitos deles, seja por negligência ou devido ao acervo exacerbado de peças, permitem a deterioração de importantes dados e datas gravadas na arma quando de sua fabricação, o que lhe retira alto valor histórico e científico.

METRALHADORA. GATLING. Adquirida pelo Exército Brasileiro dos EUA em meados de 1870. Detalhe: a peça apesar de guardada em local seguro e seco em Museu no RJ, não recebe os mesmos cuidados que lhe daria um colecionador particular. O Brasil adquiriu duas metralhadoras. Ninguém sabe o paradeiro da outra, o que demonstra o quanto nosso país valoriza as peças de coleção e os próprios colecionadores.

Não fosse o trabalho árduo de muitos colecionadores no Brasil, a própria sociedade não teria meios de aperfeiçoar o desenvolvimento da cultura, até mesmo porque muitos museus recebem parte de seus acervos através de doações de particulares. É ridículo, portanto, tentar impor à sociedade a ideia de que somente os museus poderiam manter acervo bélico.

Não há no Brasil encontros de colecionadores de armas de fogo de maneira regular e assídua, seja devido à grande burocracia de nosso país, com leis retrógradas e mal desenvolvidas, o que prejudica a arte de colecionar armas de fogo e objetos militares, atrapalhando deveras o aperfeiçoamento cultural em prol da própria sociedade.

Enquanto os colecionadores de armas e artefatos bélicos não dispuserem de meios físicos ou eletrônicos especializados para garantir o amplo espaço para o desenvolvimento da atividade quem perde é a própria sociedade.

Há muitos anos a sociedade vem sendo enganada pela mídia sensacionalista e por governantes comunistas que pregam mentiras contra os colecionadores. Aliás, a mentira que o governo tenta impor à sociedade sobre a necessidade de se desarmar o cidadão foi sabiamente explicitada no livro “Mentiram para Mim sobre o Desarmamento” dos autores Flavio Quintela e Bene Barbosa.

Flavio Quintela e Bene Barbosa rebatem todas as falsas premissas levantadas pelos desarmamentistas através de dados científicos de pesquisas técnicas sobre a correlação entre taxa de homicídios e número de armas.

Nitidamente se percebe que o problema do Brasil é o outro. O primeiro problema é a fragilidade de nossas fronteiras que abastecem os criminosos com armas contrabandeadas. O segundo problema é, ao meu ver, o mais desrespeitoso e ilegal que um governo pode fazer contra uma pessoa: é jogá-lo na vala dos criminosos.

Se eu, cidadão de bem, não consigo comprar uma arma simplesmente porque o Delegado da Policia Federal entende que não preciso dela, mesmo cumprindo eu todos os requisitos estabelecidos na lei, é revoltante e ultrajante, o que certamente me empurrará para a aquisição de uma arma sem registro, mesmo cumprindo todos os requisitos que me autorizariam tê-la pelos meios legais.

Isso é o que vem ocorrendo com muitas pessoas em nosso país. Cumprem todos os requisitos, fazem cursos de tiro, passam por psicólogos, pagam taxas, montam o processo e após meses de espera recebem um despacho ordinário de três ou quatro linhas denegando o direito de adquirir, renovar ou transferir uma arma.

É justamente por isso que não raro vemos pais de família ou idosos que possuem uma arma, às vezes herança de família, verdadeiras relíquias que ficaram guardadas durante décadas, serem presos e processados porque o armamento não dispunha de registro pelos órgãos competentes. Garanto que se a lei protegesse o cidadão de bem lhe daria meios hábeis para o registro e não sentença para manter-se na ilegalidade.

É preciso entender que o criminoso não buscará os meios legais para adquirir, registrar ou transferir uma arma. Somente aquele que é cumpridor da lei assim o fará.

A atual postura do Estado Brasileiro é essa: a de literalmente jogar o cidadão de bem na vala dos criminosos, já que ao impor àquele que paga impostos, que jamais foi processado ou investigado, tantos requisitos para comprar uma arma e ainda assim deixa-lo ao critério discricionário da autoridade, certamente está proibindo a compra e uso da arma de fogo pelos meios legais, o que de forma contrária tende a empurrar o cidadão de bem a se manter na ilegalidade.

A criminalidade e a impunidade residem na falta de meios de se registrar, adquirir, renovar e transferir com facilidade uma arma pelo cidadão que cumpre requisitos objetivos. Se toda arma fosse registrada haveria menos impunidade devido ao controle estatal. O sistema de registro e transferência de uma arma de fogo deveria ser semelhante ao de um automóvel (cumprindo-se todos os requisitos legais). Quando o Estado dificulta os meios de aquisição e transferência ele impede a si mesmo de exercer atos de controle e, futuramente, aplicar a lei se referida arma for utilizada em crime.

Nada representa mais uma época, um governo, uma história do que uma arma. Há nela mais fatores históricos e sociais do que supõe os desarmamentistas, e é, por tal motivo, que elas representam fonte de fascínio e admiração.

Toda arma é colecionável, embora nem todas possuam caráter histórico momentâneo. Impedir que se colecione uma arma nova, fabricada, por exemplo, esse ano, por se entender que ela não possui caráter histórico causa polêmica.

A 2ª Região Militar no Estado de São Paulo, regulando a atividade dos colecionadores de armas em seu âmbito restringiu de maneira bastante polêmica o que deva ser ou não colecionável.

Lançou em 19 de janeiro de 2017 um catálogo com os tipos e modelos de armas que podem ou não ser adquiridas por colecionadores. Permitiu, todavia, sugestões de colecionadores e especialistas para aperfeiçoar um catálogo que deva conter aquilo que deva ser colecionável.

Existem fatores a favor e contra o catálogo da 2ª RM. Por certo a decisão é louvável na medida em que seu aperfeiçoamento trouxer a inclusão de grande gama de armas históricas e contribuir para a formação de uma identidade única entre a classe dos colecionadores. Somente uma maciça inclusão de armas com valor histórico e uma constante atualização do catálogo permitira a formação dessa identidade entre os colecionadores. http://www.2rm.eb.mil.br/portalsfpc/index.php/component/content/article?id=275

O difícil será identificar o que seja considerado histórico pelo Exército. Somente com a consulta aos colecionadores, colaboradores e estudiosos do tema a 2ª Região Militar logrará alcançar meios de garantir a preservação de peças cujo interesse em preservar ultrapasse a esfera do individual e atinja a própria sociedade. Será preciso muito boa vontade por parte do Exército para alcançar a ampla gama de armas históricas existentes no mundo.

Entretanto, o perigo se revela na arbitrariedade de impor um catálogo do que é ou não colecionável como maneira de impor ao colecionador as peças que deva adquirir.

Com efeito, o que garante que uma peça chegue às gerações futuras, seja ela uma arma, um selo, um vaso ou qualquer item é a disparidade de preferências existente entre os colecionadores do que deva ser ou não colecionável. Um colecionador prefere algo moderno, outro algo antigo, um prefere item da I Guerra, outro da Guerra do Iraque etc. O congelamento por parte do Exército do que deva ou não ser colecionável não garante a preservação dos bens e objetos às gerações futuras pelo simples fato de se colecionar.

Como dito, os administradores da 2ª RM terão longa empreitada e devem ser pessoas atentas às mudanças sociais, aos conflitos internos e revoluções do Brasil (por menos importante que tenha sido), verdadeiros historiadores e abertos à conversação com estudiosos sobre o tema para aperfeiçoar corretamente o referido catálogo de armas históricas.

Neste contexto, seria prudente que o catálogo pudesse incluir armas atuais de edições limitadas de empresas bélicas nacionais ou estrangeiras. Assim, justo seria que o catálogo contemplasse armas modernas cujo lançamento ocorreu em virtude de Edições Comemorativas com títulos que remetessem o seu lançamento a um determinado evento histórico, como, por assim dizer, a edição de uma carabina que comemore 70 anos do final da II Guerra Mundial. Referidas peças dentre outras que embora modernas representem eventos históricos devem ser consideradas peças de coleção. Qualquer imposição estatal do que se deva colecionar pode se revelar prejudicial à própria sociedade caso não realizado a contento e em constante atualização, vislumbrando-se sempre a garantia de que uma peça moderna um dia se tornará colecionável.

Pensar o contrário seria o mesmo que, por exemplo, em 1940/1950 não permitir o colecionamento de uma submetralhadora alemã da 2ª Guerra Mundial, por entenderem as autoridades da época que referida arma é moderna. Muito provável que as peças de coleção se perderão com o tempo, seja por cair nas mãos erradas ou mesmo não chegar aos dias atuais em quantidade suficiente para sua apreciação.

Ademais, existem armas modernas que possuem caráter histórico por terem sido utilizadas em guerras recentes. Sua preservação por meio de sua inclusão no catálogo de armas de coleção da 2ª RM deve ser observada. Caso não realizada de maneira a aprimorar os conhecimentos, servirá apenas para desprestigiar a atividade de colecionamento.

O fundador do site Armas Históricas é Advogado. Colecionador da 2ª RM. Estuda armas de fogo e artefatos militares e seu impacto e relevância para os dias atuais. Também é entusiasta e participa de encontro entre colecionadores do Brasil e exterior. Sócio da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo no Estado do Rio de Janeiro.


6 comentários

mario bortolotti · 18/02/2017 às 20:30

Boa tarde, adorei o texto. Sou colecionador e acredito que este portal abrigará dentro em breve muitas informações úteis para nós. Att Mario

    carlos · 27/02/2017 às 01:36

    Tudo bem, muito obrigado por sua opinião. Qualquer dúvida entre em contato com o ARMAS HISTÓRICAS. Atenciosamente Carlos

Paulo Gimenez · 28/02/2017 às 16:08

Muito bom… Parabéns pelo site!!!

    carlos · 28/02/2017 às 18:10

    Obrigado Paulo. Em breve faremos outros artigos e detalharemos outras armas históricas com o intuito de angariar informações úteis para a classe dos colecionadores. Atenciosamente Carlos

Vânia · 28/02/2017 às 16:39

Boa tarde. Parabéns pelo site. Quando quero pesquiar acho somente site em inglês e penso que com o tempo esse site abrigará informações importantes para nos. Parabéns

    carlos · 28/02/2017 às 18:16

    Boa tarde Vânia. Você tocou em um assunto muito sério e importante. São pouquíssimos os sites brasileiros que tratam do assunto, obrigando os colecionadores e entusiastas realizarem árdua pesquisa e, ainda assim, terem de traduzir as páginas já que a maioria dos sites é dos EUA. Isso realmente prejudica a qualidade da pesquisa e o aprimoramento da militaria brasileira. Procuraremos em breve realizar esforço para abrigar informações úteis à classe. Atenciosamente Carlos

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