G33/40 Gebirgstruppen Carbine: uma raridade nos dias de hoje.

Um fuzil quase esquecido nos dias de hoje. O G33/40 é uma das versões mais incomuns da Segunda Guerra Mundial e contempla beleza e robustez digna de nota. Visto em livros e, ainda assim, muito especializados, o G33/40 foi planejado para uso por forças especializadas em batalhas de montanhas.

Apesar do número exato de fuzis fabricados ser uma incógnita, estudiosos no assunto divergem a respeito de sua exatidão, variando entre 110.000 e 250.000 G33/40 fabricados.

Entretanto, na opinião do autor do livro “Mauser Military Rifles of the World”, de Robert WD Ball, o número não é maior do que 120.000 unidades produzidas, valendo ressaltar que a grande maioria desses fuzis foram destruídos em campos de batalhas, devido ao excessivo uso e às condições adversas que eram expostos.

O que mais chama a atenção nessa arma não é seu tamanho diminuto e sua aparência com o fuzil Mauser K98k, mas sim o seu local de produção: a Tchecoslováquia ocupada.

Durante a ocupação militar alemã na Tchecoslováquia, os nazistas aprisionaram a fábrica da Brno, colocando todo o complexo de fábricas a serviço do III Reich.

Embora a fábrica da Brno estivesse a serviço dos alemães de 1939 a 1945, o G33/40 foi produzido apenas de 1940 a 1942 e sua produção foi realizada tão somente para armar o chamado Gebirgstruppen (tropas de montanhas).

Note que do lado esquerdo da coronha (buttstock), existe uma chapa de aço adicionada para criar reforço na madeira, permitindo que o alpinista utilize o fuzil como uma espécie de bengala ou apoio para sua escalada em encostas gélidas.

Este fuzil serviu com louvor toda a empreitada a que se destinou. Usado e abusado pelo Eixo em condições e temperaturas úmidas e congelantes, o G33/40 era uma arma confiável e poderosa. Apesar de estar limitado à capacidade de 05 munições, seu calibre 7,92×57 podia disparar a munição em capacidade de 196 grains, atingindo incríveis 2732 fps. Na imagem ao lado (coronha) também se pode notar os “veios” avermelhados da madeira, tipicamente utilizado pelos alemães em fabricação de armas militares do período militar da Segunda Guerra, o que confere originalidade à peça analisada.

Perceba que o K98k (acima) é maior que o G33/40 (abaixo).

Produzido apenas de 1940 a 1942, o G33/40 representa uma variante rara do modelo básico 1898. Dispara o calibre 7,92×57 assim conhecido na Europa. Nos EUA o calibre mencionado é conhecido apenas como 8mm Mauser. Para ser mais exato em termos práticos e facilitar a compreensão do leitor, cabe destacar que tal calibre equivale (em valores aproximados) à balística do conhecido calibre 30-06 Norte Americano.

Enquanto o cano do G33/40 mede 19,6 polegadas, sendo ligeiramente menor do que o cano do K98k, que é de 23,6 polegadas, as designações das armas geram controvérisa. Por volta de 1935 a Alemanha nomeou seu fuzil de infantaria padrão como K98k. O “k” à frente do 98 significa “karabiner”, o mesmo que carabina. A carabina, portanto, é uma designação para arma curta, embora seja difícil dizer por que os alemães nomearam o G33/40 com o prefixo “G”, que significa “Gewehr”, ou seja, rifle, e pressuporia um tamanho maior que uma simples carabina. Seria impossível, portanto, levar a designação ao pé da letra e dizer que o K98k é uma carabina enquanto o G33/40, ainda menor, pudesse ser chamado de rifle. Portanto, o G33/40 é, de fato, uma carabina, embora leve a designação de “Gewehr”.

Acostumados a retirar o nome da fábrica e substituí-los por códigos representados por letras e números para evitar identificação das instalações militares ativas, os alemães cunharam o código “945” para as primeiras armas produzidas pela fábrica da Brno, na Tchecoslováquia ocupada. Os G33/40 em seu primeiro ano de produção (1940) levam referido código para identificação secreta do local de sua produção.

A partir de 1941 o código secreto para a designação da fábrica mudou para “dot”. Vale ressaltar que em todas as armas produzidas de 1940 a 1942 há a impressão do ano de fabricação, com a modificação apenas do código “945” para o ano de 1940 e “dot” para os anos de 1941 e 1942.

Embora o número de 120.000 unidades produzidas do G33/40 possa parecer um número expressivo, basta analisar outras produções de armas do mesmo período e da mesma relevância no cenário da Segunda Guerra Mundial para entender que a quantidade de 120.000 foi irrisória e aumenta a raridade deste rifle. Vejamos:

  1. Pistolas Luger (1900 – 1942) total de 2.300.000 unidades produzidas;
  2. Gewehr 43 (G43) (1943-1945) total de 400.000;
  3. MP40, produzida de 1940 a 1945. Total de 1.100.000;
  4. P38 (1938 – 1945), em todos os seus fabricantes cerca de 1.000.000;
  5. Panzerschreck de 1943 – 1945 cerca de 290.000;
  6. Mauser K98k (1935 – 1945), total de 14.500.000;
  7. Sturmgewehr STG 44 (1943 a 1945) total de 400.000;
  8. MG42: de 1942 a 1945 cerca de 424.000;
  9. Panzerfaust: de 1942 a 1945 cerca de 6.000.000.

Uma característica única no G33/40 é o ferrolho oco para diminuição do peso.

O que leva, portanto, os alemães a fabricar um número relativamente pequeno de G33/40 foi a natureza da empreitada a que se destinou, ou seja, armar apenas as tropas de montanha. Por exemplo, o G43 também foi produzido em curto período de tempo (1943 a 1945), todavia, foram fabricados mais de 400.000,00 unidades, o que leva a entender que tal arma se destinava à infantaria, diferentemente do G33/40. Outro fato curioso e que se pode notar é que o K98k, apesar de sua extrema semelhança ao G33/40, teve produção total de mais 14.000.000,00 de unidades, demonstrando que os alemães fabricavam suas armas de acordo com a finalidade específica a que seriam destinadas.

Desta forma, o fato que mais chama a atenção sobre o G33/40 é seu singelo número produzido (quando comparado com outras armas alemãs do período), assim como a taxa de fuzis existentes hoje no mundo. Quando se menciona neste texto “taxa de fuzis existentes hoje no mundo” se refere apenas aos G33/40 que mantém sua originalidade.

Uma característica do G33 é a marca de prova adicionada no lado direito da coronha. O número 63 caracteriza a aceitação militar. 63 dot G33/40 Waffenw. Brünn (CZ) 1941-42

Após a Segunda Guerra Mundial os aliados, mais precisamente na figura dos EUA e da Rússia, espoliaram o quanto puderam todas as armas do III Reich. Na medida em que essas armas foram perdendo o status governamental e foram alienadas aos civis, um grande número de G33/40 foi convertido para disparar munição 30-06, bem como sofreram modificações para servir como fuzil de caça e esporte.

Ao lado esquerdo da arma temos a inscrição G33/40.

Por ser pequeno, preciso, robusto e construído de aço da melhor qualidade em comparação com a maioria das armas da Segunda Guerra Mundial, o G33/40 foi vítima dos anos 50 e 60, onde ninguém se preocupava até aquele momento com relíquias de guerra ou preservação da história militar. Mutilado nas mãos de armeiros experientes para adicionar lunetas, coronhas mais leves ou mesmo modificar o calibre, o G33/40 foi convertido aos milhares em rifles esportivos.

Acima um G33/40 customizado para tiro esportivo.

Quais fatos podem ocasionar a perda da originalidade em um G33/40?

  1.  troca de peças
  2. reforma
  3. laminação ou troca da coronha
  4. conversão de calibre
  5.  adição de luneta (quando há furo no topo do fuzil)

A respeito da reforma, laminação, conversão de calibre ou adição de luneta, todos são procedimentos invasivos que destroem as condições originais de época, refletindo na diminuição do valor histórico e, portanto, econômico da arma. Entretanto, é fato comum e praticamente aceito em todo o mundo a troca acidental de ferrolho. Quando os soldados não estavam em enfrentamento no campo de batalha, estes costumavam reunir-se para comer, conversar e, óbvio, limpar as armas. Era comum que, durante a limpeza das armas, pudesse ocorrer a troca involuntária de ferrolhos entre companheiros de batalhão, mesmo que imperceptível, pois os ferrolhos servem sem problema em qualquer G33/40.

Não bastasse todas essas incríveis e fascinantes considerações sobre o G33/40, temos a placa metálica adicionada sobre a massa de mira. Essa cobertura prova a incrível engenharia alemã e sua supremacia bélica no que se refere à fabricação de armas de fogo. Os Tchecos criaram alguns fuzis leves antes da ocupação militar alemã, como o Vz24 e o Vz33, os quais serviram de base para a criação do projeto alemão G33/40. Peritos na arte de aprimorar, não é difícil exclamar: os alemães pensam em tudo! Como o G33/40 foi concebido para ser usado em montanhas e, portanto, na neve, a atmosfera gélida reflete muito sobre a mira e alça de mira o que prejudicaria uma boa visada. A placa metálica adicionada sobre a mira tende a minimizar os efeitos da claridade, melhorando um bocado a visada do atirador, conferindo-lhe vantagem sobre o oponente.

Visão completa do G33/40. Inscrições e marcas de prova. Veja sobre a mira a placa metálica, permitindo uma melhor visada em lugares com claridade excessiva, como no caso, o gelo.

O único defeito apontado pelos soldados alemães do Gerbirgstruppen foi o recuo da arma. Cargas militares de 196 a 198 grains faziam com que os soldados se queixassem daquilo que chamavam de um verdadeiro coice.

 

 

O fundador do site Armas Históricas é Advogado. Colecionador da 2ª RM. Estuda armas de fogo e artefatos militares e seu impacto e relevância para os dias atuais. Também é entusiasta e participa de encontro entre colecionadores do Brasil e exterior. Sócio da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo no Estado do Rio de Janeiro.

 


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