O B.A.R. na Primeira Guerra Mundial

Existem muitos objetos que expressam sentimento de nacionalidade e patriotismo, mas nada se compara ao Browning Automatic Rifle. Objeto de desejo entre colecionadores de todo o mundo, ele expressa o heroísmo e a valentia dos conflitos mundiais e sua figura se confunde com uniformes e bandeiras estadunidenses. Usado e abusado em diversos conflitos mundiais, inclusive pelo Brasil durante a libertação da Itália do domínio nazista amparados pelo V Exército Norte Americano em 1944 e 1945. Sem dúvida uma poderosa arma: o Browning Automatic Rifle, ou simplesmente “B.A.R”, merece destaque no ARMAS HISTÓRICAS.

O B.A.R teve seu projeto iniciado em 1914 e foi lançado em 1917 pelo icônico inventor americano de armas John Moses Browning (1855 – 1926), maior projetista de armas de fogo de todo o mundo.

A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) ficou conhecida como “guerra de trincheiras” o que impedia o avanço das tropas por ambos os lados do conflito, e mudou os parâmetros e a mentalidade dos projetistas militares devido à limitação que o soldado vivia numa guerra em que a maioria dos exércitos se encontrava entocado em trincheiras fétidas e úmidas e não poderiam avançar devido à posição de metralhadoras inimigas.

O contexto e as condições da época da Primeira Guerra Mundial mudaram totalmente a maneira de guerrear e os ensinamentos e artefatos militares até então utilizados pelas academias militares se tornaram insignificantes e não contribuíam efetivamente para a solução do conflito. A guerra não prosseguia, a infantaria não andava e a guerra perdurava anos sem previsão de chegar ao término. Nesse período, a grande parte das metralhadoras eram pesadas e refrigeradas a água, o que prejudicava, outrossim, a mobilidade das tropas e o avanço da infantaria.

Quando os EUA entraram na Primeira Guerra Mundial em 1917, o B.A.R. já havia sido criado, mas não mantinha produção comercial com qualquer empresa, encontrando-se em fase de aperfeiçoamento.

Visando solucionar a “guerra de trincheiras” e permitir o avanço da infantaria, o projetista John Moses Browning apressou-se em apresentá-lo ao governo daquele país.

Com a adoção imediata como arma regulamentar pelo governo dos EUA, foi a empresa Colt a única fabricante inicial que detinha a patente do B.A.R oriunda do projetista John Browning. A arma foi logo direcionada por John Moses Browing para atender a finalidade de guerra e possibilitar que o soldado atirasse repetidas vezes com uma poderosa munição na tentativa de desalojar o inimigo das trincheiras.

Para ganhar território chegou-se ao consenso de que seria necessário um avanço de pelotão onde todos os soldados pudessem andar atirando. Os primeiros modelos do B.A.R. tinham bandoleira que se encaixavam em um suporte metálico ou de couro na lateral da cintura do soldado, permitindo que este realizasse tiros instintivos enquanto caminhasse.

Em Julho de 1917 o governo Norte Americano encomendou 12.000 B.A.Rs da empresa Colt. Embora essa empresa fosse a única empresa Norte Americana que detinha a patente para fabricação do B.A.R., ocorreram diversos atrasos na fabricação, o que justificou a necessidade de repassar a incumbência à empresa Winchester Repeating Arms Company como principal fornecedora dos fuzis Browning M1918 para o Exército Norte Americano.

Como o conflito durou até 11 de novembro de 1918, logo no início desse ano a empresa Colt e a empresa Marlin-Rockwell Corp., iniciaram suas respectivas produções. A empresa Marlin-Rockwell Corp com a incumbência de fabricar 20.000 armas e a empresa Winchester devendo fabricar os 25.000 do lote inicial, podendo, ainda, fabricar outros B.A.R.s enquanto durasse o conflito e obedecendo a eventuais modificações contratuais impostas pelo governo estadunidense.

O modelo inicial do B.A.R. é chamado de Modelo: M1918 ou M918, e teve sua produção inicial com a finalidade de atender a demanda da Guerra, incumbência repassada para as empresas bélicas dos EUA. Todos os lotes iniciais foram enviados para atender essa finalidade.

Em 1917 o governo dos EUA encomendou 12.000 B.A.R.s da empresa Colt, a qual não pôde honrar a encomenda devido a necessidade de atender um contrato anterior com o Exército Britânico. Embora a empresa Colt fosse a única a deter a patente exclusiva para a produção do B.A.R., (PATENTE n. 1.293.022), esta não se opôs que as outras empresas fabricassem o B.A.R., já que por problemas técnicos e alta demanda de contratos para cumprir, a Colt não tinha condições de atender a demanda governamental do B.A.R naquela situação de guerra.

Nesse cenário, no final de 1917, o governo dos EUA contratou com a empresa Winchester a produção de 25.000 unidades do B.A.R. A Winchester entregou o 1º lote de fuzis (aproximadamente 2.000) fora das especificações corretas, os quais foram rejeitados pelo governo Norte Americano. Realizados os ajustes necessários a produção seguiu em plena escalada.

Fontes americanas e fóruns na web que versam sobre armas de fogo, como o “coleshillhouse.com” dos Estados Unidos, dentre outros, apontam que em junho de 1918 a empresa Winchester havia fornecido ao governo dos EUA apenas a quantia de 4.000 B.A.Rs. Desta forma, mesmo que faltando pouco mais de 4 meses para o término da Primeira Guerra Mundial, estima-se que a produção a partir de julho de 1918 chegou a 9.000 armas mensais ultrapassando os 25.000 do contrato inicial até o fim da guerra.

Desta forma, o total de B.A.R. fabricado durante a Primeira Guerra Mundial corresponde a 52.000 unidades, que representa a soma de todas as armas fabricadas pelas três grandes companhias bélicas dos EUA até o armistício que pós fim à Primeira Grande Guerra em 11 de novembro de 1918.

Abaixo temos a tabela de fuzis BAR fabricados durante a 1ª Guerra Mundial.

FUZIS B.A.R. fabricados para o governo até o armistício de 11 de novembro de 1918
Winchester (nº aproximado)                                     27.000        unidades

Colt Firearms  (nº aproximado)                                9.000          unidades

Marlin-Rockwell Corp  (nº aproximado)                16.000        unidades

Tenente Val Allen Browning, filho do inventor do B.A.R.

A título de curiosidade, em julho de 1918 as primeiras unidades do B.A.R. chegavam à França, sendo utilizadas pela 79ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA.

Em 13 de Setembro de 1918 o B.A.R. estreia seu primeiro conflito com louvor. Antes, porém, foi o próprio filho de John Moses Browning, o Tenente Val Allen Browning quem demonstra a funcionalidade da arma de seu pai na França.

O modelo inicial do BAR foi designado como M1918 e continha cinto e copo de metal ou de couro onde a coronha se encaixava do lado direito, permitindo que o operador realizasse disparos enquanto caminhasse.

A fotografia acima, bem demonstra como o B.A.R. deveria ser utilizado para a prática do “fogo marchante”.

Assim, o modelo inicial era desprovido de bipé, já que se destinava ao conceito de “fogo marchante”, para permitir que o soldado atirasse enquanto caminhasse. Seus modelos posteriores abandonaram a ideia denominada de “fogo marchante” e adotaram a ideia de que o B.A.R. deveria ser usado como metralhadora leve, e, assim, logo surgiram os modelos 1918 A1 e 1918 A2.

Esse conceito de “fogo marchante” se fez necessário para permitir que a infantaria desalojasse os soldados inimigos das trincheiras. O B.A.R foi concebido pela necessidade pungente de avançar em meio às trincheiras, já que as metralhadoras da época eram pesadas e quase todas refrigeradas a água, o que impedia a cobertura da retaguarda da infantaria.

A edição da respeitável REVISTA MAGNUM ano 14, edição nº 90, Fev/Mar de 2005, página 11, apresenta um fuzil BAR manufaturado pela empresa Winchester com número de série superior a 93.000. Menciona que o exemplar “foi originalmente fabricado no final da 1ª Guerra Mundial”. Entretanto, a manufatura da Winchester não fabricou mais que 27.000 B.A.R. entre o início da produção no ano de 1917 até o armistício que colocou fim na Primeira Guerra Mundial em Novembro de 1918.

Assim, sem dúvida podemos citar que o exemplar ilustrado pertence ao pós Primeira Guerra Mundial, provavelmente fabricado no início dos anos 1920. A veracidade pode ser confirmada através das fontes: https://en.wikipedia.org/wiki/M1918_Browning_Automatic_Rifle e também http://www.esacademic.com/dic.nsf/eswiki/135359 dando conta de que a produção total das 3 (três) empresas não ultrapassaram a soma de 52.000 fuzis. Em 1919 a soma total das produções das principais fabricantes não alcançou 103.000 fuzis. Assim, o exemplar anunciado tem sua produção estimada entre 1923 e 1925. Os B.A.Rs fabricados nesse período são considerados raros, sobretudo porque foram essas armas as utilizadas pelos gângsters nos sujos anos 1930.  Exemplares como este – mencionado pela Revista, poderiam estar envolvidos em episódios relacionados aos foras da lei, o que contribui para a elevação do preço comercial da peça entre colecionadores de todo o mundo. Foram exemplares como esse, enunciados pela Revista Magnum, que foram utilizados pelo famoso casal fora da lei Bonnie and Clyde.

Metralhadora Browning M1917

O B.A.R. deveria ter a denominação de M1917 (ano da adoção da arma pelo Exército dos EUA). Entretanto, embora tenha sido adotado em 1917 pelo governo dos Estados Unidos, recebeu a designação de Modelo M1918 para não confundir-se com a metralhadora pesada Browning também desenvolvida no ano de 1917, a qual denomina-se M1917, o que eventualmente poderia acarretar falha na comunicação entre soldados em campo de batalha.

O Modelo 1918 continha seletor de disparo que permitia ao operador efetuar disparos em modo semiautomático e automático. Mais tarde, como surgimento do Modelo 1918 A2, passou a disparar somente em rajadas, que poderiam ser reduzidas com a regulagem no seletor de gás.

Todos os modelos do B.A.R. são operados a gás e são conhecidos nos EUA como rifle automático. Foi projetado originalmente para disparar a munição 30-06, embora produzido em outros calibres para atender contratos com outros países.

O primeiro conflito de que participou o B.A.R., portanto, foi na Primeira Guerra Mundial e foi representado pelo que de melhor se concebia para sua época, representando a ascensão bélica dos Estados Unidos no campo militar. A partir da década de 1930 se iniciaram diversas modificações no fuzil, que resultaram na adoção dos modelos M1918A1 e M1918A2, que serão objeto de outro artigo do ARMAS HISTÓRICAS.

O fundador do site Armas Históricas é Advogado. Colecionador da 2ª RM. Estuda armas de fogo e artefatos militares e seu impacto e relevância para os dias atuais. Também é entusiasta e participa de encontro entre colecionadores do Brasil e exterior. Sócio da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo no Estado do Rio de Janeiro.


0 comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *